Chevrolet Chevette, Volkswagen Fusca e Ford Maverick tinham algo em comum, a tração traseira. Essa forma de prover força para mover o automóvel era bem comum no passado, especialmente em marcas americanas, mas com o passar dos anos, desde o Citroën Traction Avant de 1934, os fabricantes de veículos foram aos poucos mudando a maneira como entregavam o torque para as rodas dos veículos, trocando a motricidade das rodas traseiras para as dianteiras.
O movimento foi muito lento e só mesmo ganhou força de forma global quando os japoneses passaram a pressionar a velha indústria automotiva nos EUA e as montadoras europeias começaram a se modernizar quando marcas populares como Citroën, Volkswagen e Fiat começaram a entregar cada vez mais volumes de modelos de tração dianteira, assim como outros fabricantes franceses.
Mas, ante ao avanço desse tipo de tração, as marcas de luxo resistiram por mais tempo, especialmente Mercedes-Benz, BMW e Jaguar, sem contar as icônicas Rolls-Royce e Bentley. Nos EUA, as luxuosas – inclusive as newcommers nipônicas – também passaram a adotar a tração traseira, que se converteu em uma característica desse tipo dessa categoria. Para carros de alta performance, ela é imprescindível, até que a disputa pelo recorde do “inferno verde” alemão fez alguns fabricantes mudarem de ideia (em parte) com uma categoria só para quem tem tração dianteira.
Mas então, se era tão popular assim no passado, por que os carros (hoje) geralmente tem tração dianteira? O motivo não está ligado à dinâmica de condução e nem em relação ao desempenho, mas é intimamente conectada com uma série de fatores, entre eles redução de custos de desenvolvimento e produção, melhor aproveitamento do espaço interno e redução de peso, visando baixar consumo e emissão de poluentes.
Fazer um carro com tração dianteira em larga escala sai mais em conta do que criar uma estrutura mais complexa para forjar o casamento entre motor/câmbio/cardã/diferencial e a carroceria. Obviamente, nem todos os segmentos de mercado podem simplesmente mudar da tração traseira para a dianteira por causa dos custos.
No caso das picapes, por exemplo, ter a força originalmente nas rodas traseiras significa robustez, controle, capacidade de carga e a imagem de força, que o cliente requer do produto. É por isso que até hoje apenas os modelos Honda Ridgeline e Fiat Toro possuem tração dianteira como base de projeto, apesar de ambas oferecem força nas rodas traseiras. Nas picapes leves, isso já não é tão importante, pois sua base é o automóvel de passeio.
Com a tração dianteira, especialmente com motor e câmbio em transversal (de lado, apesar de ainda existirem aqueles de posição longitudinal), o automóvel conseguiu uma boa redução de custo, pois num mesmo conjunto agrega também diferencial e semi-eixos, que transferem a força para as rodas.
Então, na linha de montagem, esse conjunto mais compacto e leve é mais facilmente encaixável do que o conjunto de tração traseira. Assim, deixa o restante da carroceria para aproveitamento de espaço, foi possível ampliar o conforto e a comodidade dos passageiros, bem como introduzir novas tecnologias, entre elas baterias para híbridos e cilindros de GNV, por exemplo.
A tração dianteira beneficiou imediatamente alguns segmentos de mercado no mundo automotivo, desde uma ampliação na mobilidade urbana até o aumento no transporte e distribuição de cargas nos grandes centros. Isso sem contar no desenvolvimento de um novo tipo de veículo familiar.
No primeiro caso, ter um carro pequeno para circular em centros urbanos apertados só foi possível com o uso da tração dianteira, onde motor e câmbio foram compactos para caber no diminuto cofre. Foi assim como o Mini inglês e com os kei cars japoneses, que ajudaram a reduzir o tamanho dos carros para lugares cada vez mais apertados. Após muitos anos, a Chrysler inventou um novo carro para família, que dispensa um espaço apenas para bagagens (peruas) e acrescentava um salão para 5, 7 ou 8 membros da família.
A minivan só foi possível com a tração dianteira. Da mesma forma, também as vans conseguiram aumentar o volume para levar encomendas urbanas de forma mais eficiente com o uso da tração dianteira. Os baús puderam ter suas plataformas planas mais próximas do chão com a ausência de cardã entre motor/câmbio e o eixo traseiro.
Como cada projeto tornou-se mais eficaz no aproveitamento de espaço e na redução de peso, mudar de tração dianteira para traseira se tornou algo proibitivo para os carros convencionais por causa das margens de lucro menores em automóveis mais baratos, o que não justifica os custos. Já em carros premium, cujo valor agregado é elevado, assim como as margens, ter tração traseira ainda é um “luxo”. O “ainda” se refere novamente aos custos.
Com o desenvolvimento de automóveis ficando cada vez mais caro, os fabricantes do mercado de luxo começaram a mudar seu portfólio na faixa de entrada, trocando os modelos antigos de tração traseira por equivalentes com tração dianteira. Foi assim como o primeiro Classe A da Mercedes-Benz e continua na atual geração, tal como alguns modelos da BMW, incluindo o X1. O conceito de modularização de fabricação de veículos, como MQB, MLB, CMP, EMP, CMA, SPA, CMF, entre outras, trouxe redução em escala.
Para espanto de alguns, carros de luxo como Cadillac XTS, Lexus ES, Audi A6 e Volvo S90, por exemplo, possuem este tipo de tração, assim como quase todos os carros da Audi. Neste último fabricante, apenas uma parte possui motor em transversal, prevalecendo a arquitetura de motor e câmbio longitudinal, como acontecia nos antigos Passat, Santana e Gol, por exemplo.
E o futuro? Com os carros elétricos, a tendência de mover a tração para trás retornou, graças ao tamanho reduzido dos motores elétricos, que podem ser acondicionados de forma a não roubar espaço no habitáculo ou porta-malas. Aliás, até garantem um espaço extra no antigo cofre do motor.
FONTE: Notícias Automotivas
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